Trapiá Semente: Iniciativa que forma grupos de teatro em cidades do RN e cultiva autonomia criativa entre jovens potiguares

Em meio à seca do Seridó, uma árvore floresce e semeia: a trapiá. Assim como a planta, o projeto de mesmo nome — Trapiá Semente — resiste e cultiva a cultura teatral, regando o potencial de crianças e jovens para que suas próprias histórias floresçam.

Elaborado em 2019, e iniciado definitivamente em 2022, o projeto de parceria da MAPA Realizações Culturais com a Trapiá Cia Teatral, que leva o incentivo de fazer teatro e produzir cultura para o interior do Rio Grande do Norte, já está na sua 4ª edição “trazendo a arte para o dia a dia das pessoas”, como explica a produtora cultural do projeto, Tatiane Fernandes.

Em uma realidade em que a geração atual é quase 100% ligada às telas, o Trapiá Semente surge como uma alternativa não só às tecnologias digitais, mas também uma forma de ampliar as relações e tornar os jovens os protagonistas. “Nós juntamos essa essência da Trapiá com essa potência da juventude sendo protagonista de um projeto”, explica Tatiane Fernandes. O objetivo, segundo ela, vai além da experiência individual, visando que, em cada cidade, os jovens possam criar um grupo de teatro que seja representativo e significativo para eles, fomentando uma autonomia criativa que transcende o consumo passivo de conteúdo digital.

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Produtora cultural do projeto, Tatiane Fernandes. Foto: Vitória Oliveira

Atualmente, a Trapiá Semente está presente em cinco cidades do RN: São Vicente, Cerro Corá, Lagoa Nova, Jardim de Piranhas e Jucurutu. Nessas localidades, o projeto acompanha de perto o desenvolvimento artístico e pessoal de cerca de 60 jovens, que participam ativamente de todas as etapas do processo formativo.

A metodologia do Trapiá Semente é dividida em fases distintas. Tudo começa com o “Semear”, onde é apresentado o espetáculo “O Menino Pássaro”. A partir daí, avança-se para o “Regar”, um processo que funciona como um curso livre de teatro, culminando na fase “Florescer”, com a estreia do novo grupo local e sua primeira peça na cidade. Demonstrando a visão de longo prazo e a alma cíclica do projeto, a fase “Cultivar” garante a continuidade da trajetória dos jovens artistas. E nesse retorno, a metáfora do semear ganha uma nova profundidade, como explica a produtora cultural: “Essa fase significa uma reconexão com os grupos já formados. A gente passa um ano no processo com os jovens e fecha o ciclo. No ano seguinte, retornamos a essas cidades, reencontramos os jovens que montaram esse grupo, conversamos com eles sobre as perspectivas que eles têm para continuar e muitos deles acabam seguindo a trajetória com novos espetáculos”.

É nessa etapa de cultivo e reencontro que o teatro permanece como uma prática viva na comunidade, estimulando a continuidade do trabalho mesmo após o encerramento das atividades iniciais do projeto. O que começa como uma oficina se transforma em grupo, e o grupo ganha raízes na cidade. A força do projeto está justamente em seu ciclo contínuo, que assim como a árvore, segue lançando novas sementes.

O Trapiá Semente, mais do que formar artistas, forma cidadãos conectados com suas raízes e culturas. Como a própria Tatiane resume: “É construir uma opinião própria e uma visão de mundo a partir do teatro”.

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