O secretário estadual de Agricultura, Pecuária e Pesca do Rio Grande do Norte, Guilherme Saldanha, disse que empresas chinesas estão interessadas em investir no Terminal Pesqueiro de Natal. “Eles estão vindo semana que vem para cá”, disse o secretário, em entrevista à rádio Mix nesta terça-feira 27.
Saldanha afirmou que tratou do assunto em encontro com representantes do setor pesqueiro chinês durante sua passagem pelo país asiático, em missão concluída na semana passada.
Segundo o secretário, o grupo estrangeiro já tem presença no Brasil e deve realizar visitas técnicas ao Rio Grande do Norte com interesse direto na estrutura potiguar.
Apesar de não entrar em detalhes sobre a negociação ou possíveis parcerias, o secretário demonstrou otimismo: “Eu fiquei encantado com o país”, afirmou, ao comentar o potencial de cooperação comercial com a China, país que, segundo ele, vem expandindo investimentos em infraestrutura na América do Sul.
O Terminal Pesqueiro de Natal, localizado na zona portuária da capital, teve suas obras iniciadas em 2009, mas ainda não entrou em operação plena. O Governo Federal publicou em março edital para concessão da unidade à iniciativa privada por 20 anos, com previsão de leilão para 24 de junho de 2025.
A concessão prevê a modernização do equipamento, que conta com fábrica de gelo, câmaras frigoríficas, estrutura para processamento de pescado e cais de atracação para embarcações industriais e artesanais.
O RN é atualmente o maior produtor de atum do país. O terminal atenderá tanto a pesca oceânica de maior porte quanto aos pescadores da comunidade. A capacidade para estocagem do porto será de 50 mil quilos, e ainda contará com serviços de beneficiamento primário de peixe e fábrica de gelo com capacidade para produzir 60 toneladas de gelo por dia.
RN mira mercado chinês e pode dobrar produção de melão em 5 anos
Durante a entrevista, Saldanha explicou que a China, apesar de ser a maior produtora de melão do mundo, consome quase toda a sua produção internamente, criando um mercado promissor para exportações brasileiras, especialmente as potiguares.
“Eles produzem 350 mil hectares de melão. […] Se a gente atender 5% desse mercado em 5 anos, por exemplo, a gente vai precisar dobrar, fazer o que a gente levou 40 anos para fazer novamente”, afirmou o secretário.
Guilherme Saldanha destacou que o Rio Grande do Norte e o Ceará já somam cerca de 20 mil hectares de área cultivada com melão, fruto exportado principalmente para a Europa. A abertura comercial com a China, porém, enfrenta desafios logísticos, como o alto custo do frete aéreo e a longa duração da rota marítima atual, que pode chegar a 52 dias.
“O frete aéreo gira em torno de 2,5 a 3 dólares um quilo. É 10 vezes mais caro”, explicou. Para viabilizar o comércio, segundo ele, será preciso viabilizar uma rota direta de navio para a China, reduzindo o tempo de transporte para cerca de 28 dias. “Chegando com 28 dias, dá para comercializar, dá para chegar no supermercado, dá para o chinês comprar e haver realmente negócio”, avaliou.
Se o cenário se concretizar, o impacto na economia potiguar será expressivo. “5 mil hectares representam, no preço de hoje, às vezes, 40 mil reais. Eu estou falando em 200 milhões de reais por ano de investimento. […] 5 mil hectares são mais 10 mil empregos diretos que são gerados”, afirmou.
Investidores estrangeiros miram mirtilo e pesca no Rio Grande do Norte
Além da fruticultura tradicional, o secretário revelou que investidores canadenses demonstraram interesse em cultivar mirtilo no Estado. “A gente está recebendo um pessoal do Canadá, querendo produzir mirtilo aqui”, disse. Ele contou ainda que recebeu a foto de um dos participantes da missão internacional relacionada ao cultivo da fruta.
O mirtilo, ou blueberry, é uma fruta nobre, com alto valor agregado, popular em países da América do Norte e da Europa. A possível introdução da cultura no RN representa diversificação da matriz agrícola e ampliação da oferta de frutas voltadas para o mercado externo.
A viagem à China também envolveu contato com investidores do setor pesqueiro, o que reforça o foco estratégico da pasta em internacionalizar as cadeias produtivas do Estado.
O secretário reforçou que as relações comerciais com a China devem se intensificar, especialmente em setores como frutas e proteína animal. “No dia que o chinês comer o melão do Rio Grande do Norte, ele não vai mais comer inseto, não”, disse em tom descontraído.